POESIA: VÍCIOS E GEMIDOS (a literatura enquanto viagra)

 Vês toda essa baboseira?
Toda essa beleza plástica, frágil?
A literatura precisa ser condenada, reescrita
A literatura precisa de uma língua boa como a minha
que saiba crucifica-la o suficiente em todos os seus orifícios obscuros.
Eu, filha de Eros, Erótica
fadada a falar de virilhas encharcadas
de fricção sobre lençóis,
de orgias.
Eu que gosto da luxúria mascarada nos anseios,
eu que me amparo nas umidades entre as pernas
eu que estou a todo tempo tentando mostrar que o homem e os deuses
também desejam, fedem e metem
A própria inconstância:
preciso me contentar com prateleiras obscenas
e só posso ser lida às escondidas
madrugadas
Eu que gosto de gemidos roucos, urros grossos e gritaria
preciso me sustentar com leituras sussurradas nunca jamais trovejadas em praça pública
Parece-me, assim discreta
Que fui feita com o propósito de levantar caralhos, massagear egos, ser viagra: olhar e me curvar sempre para o pomo de um Adão
Equívoco!
São as mãos mais delicadas e de unhas bem pintadas que me querem,
sou consumida frequentemente por vulvas daninhas.
Habito as casas dos budas ditosos, deito a minha chaga no kama sutra e me ludibrio durante 120 dias de (pura) Sodomia
Eu que não valho as páginas que gozo
Declaro crime os feitos do Padre Amaro e pinto os sete pecados em cinquenta tons de cinza.
Eu, esse ninguém
esse refém da transgressão,
da subversão,
do cotidiano de quartos escuros,
bordéis abandonados,
do sexo selvagem de Eros e o Caos,
me rebelo à literatura bem recebida:
por isso resisto, por isso me camuflo na obliquidade do olhar de Capitu,
na volúpia das coxas de Gabriela,
no coito não-dito de Bom-crioulo;
por isso que até gosto do subentendido.
Eu sou uma dimensão desse homem podre
Que transa versos, que fode lírica
Goza mitos
E omite
Eu sou a chama que não padece.
                                                                                                                                                                    – GABIRU

Poesia desenvolvida para o trabalho final da Disciplina de Teoria da Literatura II, na Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, em 2017. 

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